Arquitetura híbrida

Arquitetura híbrida

Capa: Arquitetura híbrida

Uma linguagem arquitetônica cada vez mais ousada e imponente avança nas grandes metrópoles mundiais. Tal fenômeno pode ser observado de norte a sul do globo, mas é certamente na China que ele encontra um de seus terrenos mais férteis. Basta piscar os olhos e mais um edifício de formas exóticas brota no país, dominando os novos cenários urbanos locais. Exemplo recente da tendência arquitetônica que acompanha o boom construtivo das metrópoles chinesas, o Vanke-Shoukai Daxing é um complexo de uso misto que nasceu com o propósito de fugir das convenções e vencer barreiras entre espaços internos e externos, entre áreas comerciais e de lazer.

Inaugurado em Pequim no ano passado, o empreendimento incorpora novos parâmetros para a concepção de estruturas arquitetônicas. Espalhado por mais de 120 mil metros quadrados, o projeto cria um grande parque aberto entre seus edifícios de diferentes alturas. Formada por dois blocos encaixados um no outro, a galeria Vanke Daxing foi o primeiro dos edifícios concluídos. Lojas, espaços comerciais e escritórios fazem parte da edificação, que joga com a complexidade espacial interna e dos arredores. “Formando um volume em balanço, a caixa suspensa foi concebida como um bloco retangular, apoiado em uma estrutura semicircular ao nível do solo”, descreve a equipe do Spark Architects, escritório que assina o projeto.

Segundo o diretor da equipe, Jan Felix Clostermann, o empreendimento foi concebido com o propósito de se converter em um novo centro de entretenimento e negócios para o distrito de Daxing, na zona sul de Pequim. “Nosso objetivo foi promover uma experiência dinâmica por meio da variedade de atmosferas e ambientes, criando espaços híbridos tanto do ponto de vista da linguagem arquitetônica como pela mistura de elementos urbanos e naturais. Esperamos que o projeto seja um modelo de sucesso para ancorar o desenvolvimento de uma área periférica da cidade.”

 
Ruptura
 

Quando concluído, o projeto incorporará um edifício de escritórios de 120 metros de altura, além de uma torre de apartamentos e um shopping center. “O design do empreendimento propõe uma ruptura com os padrões convencionais de edifícios compostos por torre e base, nos quais o volume é tipicamente introvertido”, comenta o diretor. “Neste caso, a base é perfurada e moldada por dois eixos principais, que conferem mobilidade e fluidez ao conjunto. As diferentes funções são claramente definidas por recortes, que abrem espaços vazios entre os volumes do edifício.”

Segundo Clostermann, a escolha dos vidros aplicados no envelopamento do edifício tornou-se um fator essencial para se obter o efeito visual almejado. A proposta de fundir uma base de formato circular no nível do solo a uma caixa retangular suspensa apoia-se essencialmente na articulação desses dois volumes, sem qualquer elemento decorativo adicional. “O efeito arquitetônico proposto pela união de dois volumes com características próprias ampara-se no envelopamento envidraçado do edifício. Isso se torna mais evidente ao anoitecer, quando percebemos claramente o revestimento mais opaco da estrutura superior, apoiada em sua base altamente transparente e iluminada”, diz o arquiteto. “Além disso, nosso objetivo era revelar certos elementos estruturais da caixa, de modo que uma fachada cortina integralmente envidraçada foi a solução mais óbvia.”

Todas as faces do edifício são forradas com vidro, para enfatizar a transparência e interação entre as áreas externas e os espaços de compras e lazer no piso térreo. “O orçamento não permitiu a aplicação de vidros low-iron, ou extra claros, que seriam nossa primeira opção”, conta Clostermann. Como alternativa, a escolha recaiu sobre vidros de tonalidade cinza, com revestimento de baixa emissividade, que garantiram nível satisfatório de transparência. “Desobstrução visual e interação com a paisagem foram metas essenciais para o piso térreo”, diz o diretor.

Assim, para o fechamento do primeiro e segundo andares, foram aplicadas unidades duplas insuladas com vidros low-e, na cor cinza, e refletividade de 11%. Já nos dois andares superiores, a idéia era maximizar a vista e ao mesmo tempo garantir certo grau de privacidade. “Por essa razão, escolhemos um vidro com nível máximo de reflexão. Assim, do lado de dentro é possível desfrutar magníficas vistas da região, enquanto do lado de fora o envelope reflete o céu, as nuvens e elementos da paisagem.“ 

As unidades insuladas são compostas por vidros low-e com refletividade de 35%. No total, o projeto conta com quase 2,5 mil metros quadrados de superfície envidraçada. “A combinação de vidros com diferentes graus de reflexão foi essencial para concretizar a intenção arquitetônica do projeto, pois promoveu uma perfeita justaposição de transparência e refletividade”, conclui Clostermann. 

                                   

                                       

A caixa suspensa foi concebida como um bloco retangular, apoiado em uma estrutura semicircular ao nível do solo. Desobstrução visual foi a meta essencial para o piso térreo, que recebeu vidros de tonalidade cinza. Nos andares superiores, alto grau de refletividade para espelhar a paisagem. Internamente, vidros serigrafados decoram as divisórias das salas de reunião.