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Arte em Vidro

Como uma onda

Casal de artistas combina técnicas de vidro a quente para criar peças inspiradas nos movimentos do oceano

23/03/2016

 “Me encantei pelo vidro a quente quando o vi sendo manipulado pela primeira vez, ainda na universidade. Desde então, me dediquei à técnica por toda minha carreira, ministrando cursos e participando de oficinas”

 

A técnica é centenária e remonta à Itália do século XIII. Mas suas variações e reinvenções continuam a proliferar e se desenvolver mundo afora, dando origem a correntes artísticas dos mais variados estilos e linguagens. A arte de moldar o vidro a quente, por meio do sopro, e assim convertê-lo em formas que mais parecem movimentos congelados no tempo, tem inspirado escultores por todo o globo. Entre eles estão os americanos Paul DeSomma e Marsha Blaker, internacionalmente conhecidos por sua arte em vidro e cerâmica. 

A dupla se uniu há cerca de 25 anos, dando início a uma parceria que representou não apenas um casamento, mas também a união de habilidades e paixões similares. Em 2001, o casal fundou seu atelier em Live Oak, na Califórnia (EUA), Estado que vem se mostrando importante reduto de uma nova geração de artistas e artesãos vidreiros. No estúdio, os artistas trabalham tanto individualmente como de forma colaborativa. As técnicas que resultam em surpreendentes esculturas de ondas estourando no oceano resumem-se basicamente ao tradicional vidro soprado, além de métodos específicos para manipular e moldar o vidro enquanto derretido, a uma temperatura acima dos 800º C. “Me encantei pelo vidro a quente quando o vi sendo manipulado pela primeira vez, ainda na universidade. Desde então, me dediquei à técnica por toda minha carreira, ministrando cursos e participando de oficinas”, lembra Marsha.     

 


Ela o marido já haviam trabalhado na aclamada Pilchuck Glass School, tradicional escola de arte vidreira em Seattle. “Na verdade, não fui eu que escolhi o vidro, mas o vidro que me escolheu”, brinca DeSomma. “Desde que pude trabalhar o vidro pela primeira vez, sabia que cada passo profissional dali em diante seria nessa direção”. A decisão de unirem suas potencialidades criativas em um mesmo projeto veio depois de DeSomma ter sofrido um grave acidente de carro, que mudou em 180o o rumo de suas decisões e estilo de vida. “De alguma maneira, me dei conta de que estava na hora de nós dois fazermos o que realmente tínhamos vontade de fazer”, diz o artista. “Por que esperar por um melhor momento? Muitas vezes, as situações mais trágicas podem trazer influências positivas, pois, passada a fase mais crítica, nos tornamos capazes de ver as coisas de forma mais ampla e profunda”.

 


Dentre as ousadas produções artísticas do casal, a que mais se destaca certamente é a série Waves, composta por elegantes vasos e esculturas em forma de ondas. Em processo criativo colaborativo, os artistas inspiram-se nos movimentos do mar e procuraram captar obras os belos efeitos produzidos pela arrebentação. “As obras reproduzem a pulverização da água e o movimento das ondas quando quebram, produzindo um gradiente de cores e texturas muito particular”, descreve DeSomma. 

 


As peças exibem inúmeras gradações, com azul profundo circundando suas bases, enquanto pontos claros representando espuma branca, se espalham de forma crescente até o topo, cujo formato é moldado a quente. “Embora nosso trabalho seja compartilhado em praticamente todas as etapas, eu fico mais concentrado em reproduzir texturas e cores do ambiente marinho da forma mais fiel possível, enquanto Paul enfatiza em seu trabalho a clareza, a transparência e o aspecto incolor do vidro”, conta Marsha. “A perfeita plasticidade do vidro o torna um material extremamente adequado para a concretização de muitas ideias”. 

 

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