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Fique por Dentro

Dupla afinada

Integração entre vidro e alumínio agrega tecnologias à construção civil e fortalece o desenvolvimento dos dois setores

01/08/2016

Esquadrias da Linha Mega, lançada em 2011 pela Asa Alumínio. Com padrão de 25 mm, os perfis são voltados para fabricação de portas e janelas e acompanham persianas externas de enrolar integradas

Seja na decoração e integração de ambientes internos, nos detalhes de acabamento ou na composição de grandes fachadas, a combinação do vidro e do alumínio na arquitetura tradicionalmente resulta em projetos sofisticados, modernos, tecnológicos e funcionais. Além de extremamente versáteis, os dois materiais agregam propriedades que podem garantir sustentabilidade e eficiência às edificações. “O alumínio e o vidro são fortemente integrados no segmento da construção civil e ambos contribuem para o surgimento de novas tecnologias”, observa José Carlos Garcia Noronha, coordenador do Comitê de Construção Civil da Associação Brasileira do Alumínio – ABAL. “Tanto o alumínio como o vidro são 100% recicláveis. Além disso, as matérias-primas dos dois materiais —bauxita e sílica — são encontradas em abundância na crosta terrestre.”


A exploração de soluções que congreguem os recursos do alumínio em conjunto com o vidro só tende a aumentar, avalia Noronha. “Veja alguns países da Ásia, ou mesmo Dubai. Hoje, o sistema de construção civil nesses lugares consiste em lajes sem paredes, sem peitoril. Apenas lajes com um envelopamento de vidros colados nos perfis de alumínio a cada andar, ou seja, painéis sobrepostos, sustentados por ancoragens engastadas nas lajes. E todo esse fechamento é feito, andar por andar, com vidro e alumínio, um método moderno que chamamos de fachadas unitizadas.”

 

Residencial Tulipa

Residencial Tulipa, em Santos, com guarda-corpos e demais produtos de alumínio e vidro fornecidos pelo Grupo DNA

 

Cada vez mais, os dois materiais são utilizados de forma a acrescentar projetos e ideias arquitetônicas únicas, ousadas e inteligentes, criando aspectos inovadores de forma sustentável, especialmente na sua contribuição para a eficiência energética dos edifícios, quando utilizados vidros especiais, afirma Luis Claudio Viesti. consultor técnico da Afeal - Associação Nacional de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio. “Além de resistente e maleável, podendo receber vários tipos de acabamentos, o alumínio é dotado de grande dureza, o que permite trabalhar a sua robustez e desempenhos estruturais para cada fim a que se destina. Os dois materiais se complementam”, acrescenta.

 

A evolução tecnológica de ambos caminha lado a lado porque as soluções de engenharia são pensadas de forma abrangente, com a integração de todos os materiais envolvidos. “A construção de imóveis se assemelha à culinária: é preciso pensar em todos os ingredientes e fazê-los interagir entre si da melhor forma. Vidro e alumínio sempre entram na receita. Por isso, os saltos tecnológicos de um puxam o outro.”, compara Tiago Panzani, assessor de comunicação do Grupo DNA Alumínio, que iniciou suas atividades no segmento do alumínio nos anos 90 e expandiu-se para o ramo vidreiro em 2005. Atualmente, o complexo industrial do Grupo conta com 230 funcionários operando maquinário de última geração, que processa 300 toneladas de vidro e 80 mil toneladas de alumínio por mês.

 

A busca por vãos cada vez maiores é uma tendência da arquitetura moderna, ressalta o consultor Antonio B. Cardoso, projetista de esquadrias da AC&D Consultoria de Alumínio. Para atender essa demanda, diz ele, tanto na parte estrutural como em aspectos como vedação, logística, leveza, resistência ao tempo, manutenção e conforto, entre outros, o uso do alumínio com o vidro é fundamental. “Eu diria que um material nasceu para o outro”, ressalta o consultor. “Por definição, uma esquadria de alumínio necessita do vidro, com  exceção de brises, revestimentos e algumas aplicações específicas. O alumínio extrudado oferece muita liberdade de formas e uma infinidade de aplicações para o projetista. Quando colocamos o vidro nesse jogo, com todos os recursos técnicos hoje disponíveis, somados a aspectos de conforto segurança e design, essa dupla torna-se imbatível.”

 

Para ilustrar os benefícios desta combinação, Cardoso cita o exemplo do Centro Administrativo de Minas Gerais, onde os milhares de módulos que compõem as fachadas, envolvendo cerca de 600 toneladas de perfis de alumínio extrudado,  foram instalados em menos de 18 meses. “Só mesmo uma combinação desses dois materiais poderia tornar isso possível”, comenta o consultor.


 
Desempenho

 

Com as revisões das normas de desempenho, o mercado deverá passar por transformações importantes para garantir eficiência nas edificações. “A relação alumínio e vidro tem convergência direta na questão do conforto, seja ele acústico ou térmico”, observa o gerente de marketing e planejamento da Alcoa, André Colletti.
Noronha, da Abal, lembra que os dois materiais aliados podem garantir as condições ideais de estanqueidade à água e ao ar, resistência às cargas de vento, manuseio, além de reduzir a passagem de som, fator importante para a saúde dos usuários. “Se compararmos com outras matérias-primas, como madeira e aço, veremos que elas são limitadas para atenuar a passagem de som e garantir estanqueidade conforme exigem as normas”, ressalta. “Já o alumínio é leve, resistente à corrosão e às intempéries, além de  favorecer a decoração ao permitir variados tipos de acabamentos, como anodizado ou pintado. Ou seja, trata-se de um material consagrado para edificações tanto verticais como horizontais.”

 

Hydro na Europa

Produção de extrudados em Nenzing, na Áustria. Construída em 1972, a fábrica foi a primeira planta de extrusão da Hydro na Europa, e conta atualmente com três prensas em operação 

 

Mesmo em situações em que o vidro tem-se tornado independente, passando a desempenhar a função estrutural, o alumínio exerce seu papel. “O vidro, por si só, vem se desenvolvendo a passos largos, e um bom exemplo disso é o sistema Spider, que cumpre muito bem a função estrutural. Mas, mesmo nesses casos, no mínimo as regulagens são compostas por alumínio extrudado complementando o vidro, e os dois materiais em conjunto tornam o projeto mais atraente”, opina Cardoso. 


 
Mercado aquecido

 

No Brasil, a extração primária do alumínio é dominada por quatro companhias multinacionais (Alcoa, Hydro, PHP Billiton e Novelis), que juntas respondem por 68,6% da atividade. Nesta etapa, a única empresa nacional situada entre as cinco maiores é a CBA, que detém 30% de participação no setor. Já na etapa de extrusão o market-share é mais equilibrado: o podium das cinco maiores está dividido entre duas estrangeiras (Alcoa e Hydro, com 32,7% do mercado) e três brasileiras – CBA, ASA Alumínio e Alpex, com 35,6%. É nestes três players que o Brasil conta com empresas 100% nacionais capazes de competir com os gigantes do setor. O restante do mercado está pulverizado entre várias extrusoras menores, segundo dados da Abal. 

 

De 2007 a 2010, o PIB setorial da construção civil duplicou, atingindo 125,1 bilhões de reais, informa o presidente da Afeal, Lucínio Abrantes dos Santos. Dados da entidade apontam que, 218,5 mil toneladas de alumínio foram consumidas  em 2011 pelo setor de construção civil, das quais cerca de 114 mil toneladas foram destinadas à produção de esquadrias e fachadas. “Para 2012, as estimativas são de um crescimento da ordem de 9,7%, considerando também o ganho de mercado perante esquadrias de outros materiais”, diz o presidente.

 

Os números são um reflexo de que a cadeia produtiva do alumínio no Brasil está bem estruturada e pronta para atender às demandas da arquitetura e construção civil, avalia Alessandra Nunes, da multinacional Hydro. “Toda a cadeia utiliza tecnologias de ponta, privilegiando saúde, segurança e respeito ao meio ambiente com eficiência e competitividade”, afirma. Dentre os grandes players do segmento, a Hydro dispõe de uma família completa de produtos de alumínio para arquitetura e construção civil. “Todos esses produtos, sem exceção, incluem a utilização de vidro”, frisa Alessandra. Eco Prime, Eco Façade, FCH I, FCH II, Elegance, Luna e Official são algumas das linhas da fabricante de origem norueguesa.

 

A extrusão  é responsável por 29% do mercado de consumo de alumínio no Brasil, e produtos para construção civil respondem por 15% desse volume. Dados da Abal revelem que, de 2010 para 2011, houve um crescimento de quase 6% na produção brasileira de extrudados. “Desse volume, 90% é destinado à construção civil”, informa André Colletti, gerente da Alcoa. Presente no Brasil desde a década de 60, a multinacional está entre os grandes extrusores com operações no País e é atualmente a maior produtora de sistemas para esquadrias de alumínio do mercado nacional. A empresa atua em todos os processos que envolvem a fabricação de perfis e esquadrias de alumínio, deste a mineração da bauxita, transformação da alumina e produção do tarugo até a venda dos perfis moldados ao fabricante de esquadrias, por meio da rede Alumínio & Cia. “Os últimos lançamentos foram a linha Única, voltada a obras de alto padrão, e a linha Vert que inaugura um portfólio de produtos para arquitetura sustentável”, informa o gerente de marketing e planejamento da empresa, André Colletti.

 

Cobertura com sistema Roofmaxx, da Asa Alumínio, vigamento para telhados que vem substituindo os sustentáculos de madeira por ser mais leve, resistente e fácil de instalar

Cobertura com sistema Roofmaxx, da Asa Alumínio, vigamento para telhados que vem substituindo os sustentáculos de madeira por ser mais leve,  resistente e fácil de instalar

 

“As esquadrias de alumínio são um segmento promissor, pois já constituem 20% da produção nacional de caixilhos”, destaca Tiago Panzani, do Grupo DNA, empresa cujo portfólio abrange caixilhos, coberturas, esquadrias, guarda-corpos, pele de vidro e perfis, além de serviços como fechamento de ambientes e envidraçamento de sacadas. O restante do mercado é dividido meio a meio entre os caixilhos de aço e madeira, havendo ainda uma participação marginal do PVC. “Nos últimos anos todos esses materiais têm perdido espaço para o alumínio, que leva vantagem nos quesitos de leveza, versatilidade e custo de manutenção. Além disso, as esquadrias de alumínio são visualmente mais atraentes e viabilizam várias cores por meio da anodização e da pintura eletrostática a pó.”

 

Para Heber Pires Otomar, gerente de desenvolvimento de mercado da VM/CBA (Votorantim Metais/Companhia Brasileira do Alumínio), o setor de sistemas esquadrias, que inclui extrusoras e indústrias de esquadrias (serralherias), encontra-se bastante organizado. “Essa organização se reflete na elevação da qualidade das obras em que são aplicados estes componentes, em janelas, portas, fachadas e gradis”, salienta. Presente no Brasil há 57 anos, a VM/CBA é uma das maiores produtoras de alumínio do País. Com capacidade instalada de 475 mil toneladas por ano, a empresa fornece perfis, chapas e telhas para todos os tipos de aplicações. Os sistemas de esquadrias da Belmetal estão entre as produtos fabricados com perfis da VM/CBA.

 

“As soluções de alumínio para a construção civil têm evoluído em velocidade crescente, fruto do aperfeiçoamento das técnicas de tratamento de superfície, que ampliam a durabilidade das esquadrias”, ressalta Panzani, que também responde pela comunicação da Asa Alumínio. “Para citar um exemplo, inicialmente a coloração se fazia por apenas dois processos, um durante a anodização e outro após a anodização (imersão). Depois surgiu o processo de coloração por interferência óptica, que abriu novos horizontes para o segmento.”

 

Segundo Edison Claro, diretor da Atenua Som, especializada em esquadrias com alto desempenho acústico, o segmento de pintura e tratamento de superfície apresenta capacidade instalada menor do que o necessário. “Cinco empresas detêm 50% do mercado de pintura e anodização e ainda há poucos investimentos neste segmento”, afirma.

 

 

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