Seção

Arte em Vidro

Realidade distorcida

Escultor japonês usa contas de vidro para recobrir superfícies e interferir na percepção visual e tátil dos objetos

15/11/2013

Escultor japonês usa contas de vidro para recobrir superfícies e interferir na percepção visual e tátil dos objetos

Retratar novas possibilidades táteis e visuais para formas já conhecidas e universalmente familiares. Esta foi a proposta do designer japonês Kohei Nawa ao criar a série que intitulou “PixCell”, formada por esculturas recobertas por centenas de bolas transparentes de vidro soprado, de variados tamanhos. “Ao recobrirmos a superfície de qualquer objeto com essas contas de vidro, a existência desse objeto em si é substituída por uma espécie de ‘concha de luz’, da qual emerge uma nova visão da célula da imagem.

 

Ou seja, uma imagem pixelada é evidenciada”, descreve Nawa, ao explicar a intenção da técnica de que se serviu em uma das criações de maior impacto em sua carreira. “Meu objetivo foi desvelar as diversas dimensões em que é possível intervir e manipular o modo como os objetos são percebidos pelos olhos humanos.”

 

 


“Simulando os pixels que formam as imagens no computador, as bolas de vidro deram uma impressão molecular à superfície dos objetos esculpidos”, afirma o
escultor. “A camada de bolas de vidro atua como células que deformam nossas memórias táteis e as noções visuais convencionais que temos destes objetos”,
completa Kohei, ressaltando que o efeito é ainda mais bonito quando há incidência direta e intensa de luz, que atravessa o material, iluminando-o.

 

 


A técnica empregada por Kohei permite capturar as texturas e cores de cada objeto, decompondo-as em uma infi nidade de células, e as reconfi gurá-las como
um conjunto de elementos. “Comecei o trabalho pesquisando formas na internet e visualizando-as como na tela do computador, como imagens pixeladas”, revela. Entre as formas selecionadas, o artista japonês esculpiu fi guras de veados, lobos e felinos, todas recobertas por grânulos de vidro preenchidos com ar, que formam uma nova interface entre os objetos e nossa percepção.

 

 


O artista afi rma que o principal intuito de seu trabalho foi criar um senso diferenciado quanto à natureza e à textura da superfície que está sob a camada de
vidro, bem como da real distância física entre e o observador e o objeto observado. “Eliminado-se essa consciência física real, a presença do objeto torna-se
intangível, e junto com ela todos os signifi cados simbólicos que ele carrega”, afi rma Nawa. “Isso nos leva a questionar se o que identifi camos a partir de
nossas sensações, percepções visuais e sensações físicas de toque corresponde de fato à realidade ou apenas a uma resposta emocional”, acrescenta. “A pele
é a interface entre o objeto e os nossos sentidos, e é justamente essa interação que gera a imagem.”

 


Os trabalhos de Kohei Nawa fi caram expostos por três meses na sede da varejista de luxo francesa Hermès, em Tóquio, no ano de 2009. A exposição foi batizada de “L_B_S”, sigla que representa as três fases do crescimento celular da pele.

Deixe seu comentário