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Arquitetura e Vidro

Santuário no deserto

Amplas aberturas envidraçadas integram residência à paisagem silenciosa em parque na Califórnia

18/10/1959

Transparência onipresente. As paredes de vidro levam o cenário para dentro, promovendo uma intensa imersão na vastidão do deserto

Caracterizado pelo clima, vegetação, cores e formas de uma zona desértica em que a umidade relativa raramente ultrapassa os 25%, o Parque Nacional Joshua Tree abriga cenários exuberantes e únicos, marcados por uma paisagem riquíssima em cores, formas e diversidade de espécies. Situado no coração da Califórnia, entre os desertos de Colorado e Mojave, o parque foi criado há cerca de 20 anos e abrange uma área de mais de 3 mil km², na maior parte considerada zona selvagem. Lebres, linces, coiotes constituem a fauna local. Na flora, muitos cactos e a bela árvore de Joshua, espécie que deu nome ao parque. Em seu interior, cinco oásis de palmeiras, onde a vida selvagem é mais abundante.

 

Casa de vidro na Califórnia

Transparência onipresente. As paredes de vidro levam o cenário para dentro, promovendo uma intensa imersão na vastidão do deserto

 

Tendo esses jogos de cores e formas como pano de fundo, o arquiteto Marc Atlan e a equipe do escritório Oller & Pejic aceitaram o desafio de erguer uma construção que conseguisse refletir a exuberância do cenário e de traduzir em linguagem arquitetônica toda a beleza dos efeitos produzidos pela natureza intocada da região. 

 

Cravada no centro do parque, a Black Desert House é resultado dessa proposta. “O norte do projeto foi determinado pela ampla vista que a casa deveria oferecer em todas as direções e sob todos os ângulos possíveis, ao mesmo tempo em que ela mesma se tornasse um elemento a mais da paisagem, com os ricos contrastes e reflexos produzidos na fachada”, informa o diretor do projeto, Marc Atlan. “Desde o início, sabíamos que estávamos diante de uma oportunidade única, de um projeto diferente de tudo o que tínhamos feito antes”, acrescenta o arquiteto Tom Pejic, do Oller & Pejic Architecture.

 


Luz e sombra 

 

A Black Desert House foi construída à beira de um precipício, com vista de 360 graus. Fio condutor do projeto, o caráter “low profile” da residência está presente em cada detalhe, na fachada e nos ambientes internos, nos quais a transparência é praticamente onipresente. Espalhadas por todos os cômodos, as amplas aberturas de vidro levam o cenário para o lado de dentro, ao mesmo tempo em que se fundem com ele do lado de fora, pelos efeitos visuais refletivos produzidos pelo material. “O propósito principal era criar um verdadeiro retiro no deserto, que propiciasse uma experiência de imersão com a vastidão silenciosa e o panorama local, marcado por uma mudança constante de cores, luzes e sombras”, comenta Pejic. 

 

Santuario no deserto

 

 

Em meio a um extenso pátio externo, cozinha e sala de jantar convertem-se nos focos centrais do interior do projeto. Adjacente a elas, uma escada concebida em camadas conduz à sala de estar, que se projeta para frente no piso superior, de onde panos envidraçados propiciam uma vista de tirar o fôlego. “Aqui, o intuito foi, por meio do uso extensivo do vidro, eliminar qualquer obstrução visual, criando a sensação de que não existe separação entre o interior e exterior. É como se a sala toda estivesse do lado de fora, em interação com a paisagem”, descreve o arquiteto.  

 

Do lado de fora, os panos de vidro refletivo constituem, junto com as paredes pretas e os perfis de alumínio escurecido, o principal componente da fachada, marcada por um cuidadoso uso de recursos cromáticos. 

 

O tom escuro das paredes internas reforça a sensação de santuário. As cores quentes e luminosas do mobiliário, por sua vez, destacam-se entre as paredes escuras e os vidros que, instalados do piso ao teto, praticamente “levam os móveis para o lado de fora”. À noite, a iluminação suave da casa mistura-se com a das estrelas para formar um pano de fundo para a contemplação.

 

A casa conta com um avançado sistema de isolamento térmico, capaz de proteger os interiores das temperaturas extremas típicas do deserto. Instalados em esquadrias de alumínio com perfis de corte térmico do tipo Thermal Break, vidros insulados low-e predominam nas janelas. Laminados low-e compõem também as portas deslizantes que unem a casa à área da piscina, enquanto na sala de estar a escolha recaiu sobre os vidros monolíticos. Os perfis foram fornecidos pelas americanas Fleetwood e US Aluminum.

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