Sinfonia modular

Sinfonia modular

Capa: Sinfonia modular

Articular a integração de três pavilhões em uma mesma edificação, que deveria servir tanto para uso residencial como uma galeria de arte particular, foi o ponto de partida para a concepção da ultramoderna Daeyang Gallery and House, situada nas colinas coreanas de Kangbuk, em Seul. Inaugurada em junho do ano passado, o projeto usa e abusa das possibilidades estéticas e funcionais do vidro em todos os seus módulos e recortes, entre as quais se destaca o fundo de um espelho d’água central, em que todos os pavilhões convergem para um único e harmonioso espaço. 

 

O projeto é assinado pelo aclamado arquiteto americano Steven Holl, que, ao lado de uma equipe composta por mais de 40 profissionais, do Steven Holl Architects, sediado em Nova York, é autor de emblemáticas galerias e museus envidraçados ao redor do mundo, entre eles a francesa Cité de L’Océan et du Surf, inaugurada em 2011 (notícia publicada na edição 9 de Vidro Impresso). Vencedora do Annual Design Review Award  2012, tradicional concurso de arquitetura e design promovido pela revista americana Architect Magazine, a obra impressionou os jurados pela forma como explora diferentes bases e materiais para integrar ideias que remetem à luz natural, água, paisagem e materialidade de forma coerente e assertiva. 

 

Segundo Holls, a concepção do projeto foi inspirada em um esboço feito em 1967 pelo compositor Istvan Anhalt, denominado ‘Sinfonia de Módulos’. “A galeria é uma composição feita em movimentos sequenciais”, descreve o arquiteto. Cada pavilhão, explica, serve a um propósito diferente. O primeiro como hall de entrada, o segundo como residência e o terceiro como espaço de eventos. “Os três módulos parecem surgir, como se emergissem da água, em uma galeria continua localizada no nível inferior.” 

 

O espelho d’água exerce função simultânea de conectar e dividir os pavilhões envidraçados

O espelho d’água exerce função simultânea de conectar e dividir os pavilhões envidraçados

 

O espelho d’água, que exerce a função simultânea de conectar e dividir os pavilhões, estabelece um plano de referência tanto para a parte de cima como para a de baixo. As aberturas retangulares de vidro temperado no fundo da piscina garantem a entrada generosa de luminosidade no piso inferior e, mais do que isso, promovem belos jogos de reflexos provocados pela luz que incide sobre a água. As claraboias exercem função primordial na concepção do projeto, uma vez que promovem a ideia de ‘silêncio’ sendo quebrado pela entrada de luz através dos recortes, presentes nos três pavimentos.

 

Depois de passar por um jardim formado por muros de bambus, na entrada principal, o visitante é presenteado, conforme sobe as escadas em direção ao pavilhão de entrada, por uma bela vista da superfície da água, formando uma camada contínua e uniforme. Tudo graças ao fechamento em vidros transparentes extra clear, contrastando com os impressos de textura leitosa que compõem os guarda-corpos. “O objetivo aqui é, no centro desse espaço, estimular sensações por meio de uma combinação de elementos como céu, água, vegetação e a pátina avermelhada que forra as paredes, todos refletidos de diferentes formas”, descreve Holls. “De dentro de todos os pavilhões, dispostas perpendicularmente às claraboias, as paredes de vidro permitem um enquadramento perfeito dos espelhos d’água e da paisagem ao redor.”

 

Os tons vermelho e carvão das manchas marcadas na madeira das paredes internas são ativados pela incidência de luz das claraboias de vidro que recortam o teto. “A luz do sol dança pelos espaços internos, fazendo voltas e curvas em torno deles, orientadas pelas mudanças de luminosidade ao longo do dia e conforme a estação do ano”, conta o arquiteto. “As cinco aberturas de vidro atuam como lentes na base do espelho d’água, promovendo rupturas na superfície e provocando efeitos de luz e sombra tanto nas paredes de gesso branco quanto nos pisos de granito da galeria inferior.”