Tradição fluminense

Tradição fluminense

Capa: Tradição fluminense

Fundado há 60 anos, o Sindicato do Comércio Atacadista de Vidros Planos e Espelhos do Estado do Rio de Janeiro – Sincavidro – é uma das entidades mais tradicionais do setor. Criado para estimular o desenvolvimento da cadeia vidreira no Estado fluminense e, especialmente, para garantir a harmonia entre os seus integrantes, o Sincavidro, ao longo dos anos, tem servido de modelo para o surgimento de outras entidades da classe no Brasil. Participante ativo de todos os movimentos – regionais e nacionais – do setor, o sindicato fluminense foi pioneiro na formação profissional e líder das reivindicações junto ao monopólio que, até o fim do século passado, representava o setor produtivo do segmento. Hoje o Sincavidro agrega em seu quadro social as mais diversas empresas do segmento e tem sido dirigido por empresários representativos no ramo, entre os quais está o executivo Antônio Skardanas, atual presidente da entidade.

 

Filho do romeno Anastássios Skardanas, um dos mais longevos integrantes do mundo vidreiro nacional, falecido no início de 2014 aos 90 anos, Antônio Skardanas nasceu e se criou no ramo do vidro e dele nunca se afastou ao longo de sua trajetória profissional. Sucessor do pai na beneficiadora Vidros Belém, aprendeu desde cedo a lidar com as particularidades de um mercado dinâmico, que se tem transformado rapidamente nas últimas décadas. Nesta entrevista a Vidro Impresso, ele expõe sua visão sobre a evolução do segmento no Rio de Janeiro e em âmbito nacional, revela as principais ações e planos da entidade que preside há pouco mais de um ano e compartilha sua análise sobre a postura a ser adotada pelos empresários vidreiros para atravessar o período de instabilidade por que passa a economia nacional.

 

Conte um pouco sobre sua relação com o setor vidreiro.

Nasci no ramo vidreiro. Desde muito pequeno um dos meus maiores prazeres era vir para a Vidros Belém e ver meu pai trabalhar. Nunca passou pela minha cabeça outra profissão. Meu pai começou a lidar com o vidro ainda menino, no sótão de sua casa na Romênia, onde brincava com ferramentas, entre elas um diamante para cortar vidro. A brincadeira de cortar vidros transformou-se em seu negócio. Ele começou a ser chamado para serviços de corte de vidro, e logo ficou conhecido como vidraceiro. Quando veio para o Brasil, trazia na bagagem 300 dólares e os cortadores de vidro. Anos mais tarde, em 1955, fundou a Vidros Belém, onde o vi trabalhar até o fim de sua vida e à qual tenho me dedicado desde sempre.

 

Como descreve a evolução do setor vidreiro no Rio de Janeiro, ao longo desses anos em que atua no segmento? Quais as mudanças mais marcantes?

Não há parâmetros de comparação. A indústria de base evoluiu muito, não só com a entrada de novos fabricantes, como na diversificação de produtos. Por sua vez, a indústria de transformação respondeu a essa evolução e se equipou com as melhores tecnologias disponíveis no mercado, e o próprio consumidor se mostra cada vez mais exigente e qualificado no momento de adquirir o produto.

 

Quais os aspectos mais importantes de seu trabalho à frente do Sincavidro?

Faz pouco mais de um ano que assumi a presidência do Sincavidro. Tenho algumas prioridades que espero realizar durante a minha gestão. Contudo, posso assegurar que toda e qualquer ação tem por objetivo levar conhecimento e informação ao consumidor final e ao arquiteto. Essa é a nossa maior missão.

 

 

O Sincavidro existe há mais de meio século. Como avalia a evolução da entidade nesse período?

Cada época teve suas necessidades diferentes. Quando foi fundado, o Sincavidro tinha como objetivo claro defender os interesses do comércio frente uma indústria monopolista, com práticas comerciais distorcidas. Hoje o cenário é diferente. As indústrias de base, os processadores e o comércio formam uma única cadeia e todos têm participação importante para o crescimento ordenado desse mercado.

 

Há alguns anos, a maioria das empresas vidreiras do Brasil tinha suas atividades principais centralizadas em comércio e serviços. Hoje esses players migraram em grande parte para atividades de transformação. A que se deve essa mudança?

Essa tendência se acentuou com a entrada de equipamentos mais baratos e eficientes, estimulando o surgimento de microusinas que passam a ter um foco maior na área de produção do que na área de serviços. Houve uma evolução sem precedentes na indústria processadora de vidros. Lembrando que atrás dessa rede fantástica temos uma indústria de base que simplesmente conta com os quatro maiores grupos do mundo. Todos esses setores se encontram organizados, apoiados e com suporte significativo de entidades representativas proativas e eficientes.

 

Acredita que a indústria de base e de processamento de vidros planos tem evoluído em ritmo mais acelerado do que os nichos ligados ao comércio e à prestação de serviços?

Essa é uma constatação que não pode ser negada. Contudo, essa evolução precisa ser equilibrada, pois não adianta uma indústria dinâmica e desenvolvida numa ponta da linha, se no outro extremo não tivermos uma rede de distribuição capaz de vender, especificar e montar o vidro apropriado às necessidades do cliente. Não adianta termos um trem-bala de última geração em trilhos centenários da Central do Brasil.

 

Quais as ações mais significativas do Sincavidro nos últimos anos?

Sempre demos ênfase à difusão do conhecimento. Foi assim nas várias edições do Rio Negócio Vidro, nos fóruns de debates promovidos com entidades coirmãs. Tudo que é feito para divulgar, agregar, treinar e reciclar sempre tem valor em qualquer setor da atividade econômica. A agenda do Sincavidro comprova que não desprezamos nenhuma dessas opções.

 

A economia nacional vive um início de ano bastante complicado em praticamente todos os segmentos, incluindo o da construção civil. Como avalia os efeitos mais imediatos desse cenário para o setor vidreiro?

A crise é grave e nada indica que ela seja tão passageira como gostaríamos. Estou certo que este ano e boa parte de 2016 serão críticos para o setor. É preciso prudência nos investimentos, rigorosos controles na gestão de caixa, redução de estoques e muito apreço pelas margens.

 

Quais serão as principais dificuldades a serem superadas nos próximos meses?

A construção civil, que já demitiu 250 mil trabalhadores nos últimos cinco meses, deve fechar mais 300 mil postos até o final do ano. ?Para as empresas vidreiras alguns fatores ainda podem atenuar tais projeções. Um deles é que, historicamente, o segundo semestre sempre foi melhor que o primeiro. O outro, circunstancial, está ligado às características do produto: na construção civil o vidro é sempre o último a entrar na crise. Projetos concebidos há um ou dois anos saíram das pranchetas para o canteiro de obras e não sofrer nenhuma interrupção sob o risco de se verem transformados em desastres. Para a indústria processadora, preservar as margens de rentabilidade implica gestão de caixa muito bem controlada, definição de investimentos após rigoroso filtro de prioridades e controle diário dos custos operacionais, principalmente para as empresas que têm a eletricidade como matriz energética.

 

Como avalia o comportamento do mercado vidreiro no Rio de Janeiro nos últimos anos?

O Rio de Janeiro é o segundo maior mercado do país. Seu desempenho não é muito diferente das outras praças. Algumas sazonalidades, como as Olimpíadas, por exemplo, podem fazer alguma diferença, mas nada que altere o panorama a médio e longo prazo.

 

Fale um pouco sobre o programa de treinamento de vidraceiros promovido pelo Sincavidro.

O Sincavidro foi a primeira entidade de classe a priorizar esse tipo de treinamento. Temos, mensalmente, um portfólio de cursos para todo o mercado. A maioria dos nossos cursos é focada na atividade comercial e de serviços, justamente porque acreditamos se tratar da parte mais carente da cadeia produtiva. Para o dia 10 de agosto, está marcado um curso sobre novos produtos e normas técnicas, no Rio de Janeiro, e em setembro teremos um curso de projetista, medidor e instalador de vidros temperados.

 

No mês de maio o Sincavidro promoveu a 2ª edição do Fórum de Debates do Vidro e Esquadrias de Alumínio. Qual o principal intuito desse evento, e que balanço faz dessa edição?

Algumas ações devem ser tratadas com “status” de prioridade. O Fórum de Debates do Vidro e Alumínio é uma delas. Temas pertinentes foram levados a um público específico e qualificado, formador de opinião e carente de informação. Nosso intuito é diminuir as distâncias que nos separam da especificação correta, da informação certa e da oportunidade de conhecermos melhor as inúmeras possibilidades que o nosso produto oferece.

 

Qual foi a estrutura do evento?

O evento foi formatado de forma a estimular a participação efetiva da plateia. “Selecionamos três assuntos altamente relevantes para o setor da construção civil e optamos por adotar um modelo que proporciona a oportunidade do debate livre e elucidativo”. O evento dirigido a arquitetos, engenheiros e empresas de construção civil foi dividido em três painéis distintos: O vidro e a eficiência energética; O papel das esquadrias de alumínio no  conforto acústico; Novas soluções para fachadas.

 

Quais os principais diferenciais e investimentos recentes de sua empresa?

A Vidros Belém foi a primeira empresa do Rio de Janeiro a produzir vidros laminados com resina com cura por raio UV, em 2004. E uma das primeiras a adotar a laminação com o etileno-vinil-acetato (EVA). Recentemente adquirimos um forno de têmpera único no Brasil, que, além dos temperados planos, produz vidros curvos temperados com diversas inclinações de arcos, sem necessidade de fôrmas ou moldes, em um processo assistido por computador. O equipamento é capaz de temperar vidros de 4 mm a 19 mm nas dimensões de até 1.000 x 2.400 mm com raio mínimo de 400 mm e, em outro compartimento do mesmo equipamento, até 2.000 x 2.400 mm com raio mínimo de 900 mm.