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Transparência sob os pés

Vidros em pisos e escadas valorizam ambientes e viabilizam projetos ousados e criativos

25/07/2016

Academia particular em Curitiba, projeto desenvolvido pelo engenheiro Ricardo Macedo quando ainda atuava na Engevidros. O piso sobre a piscina é removível, permitindo o uso do espaço como salão de festas e a piscina como pista de dança

A busca por redução de interferências visuais e aumento da claridade e da transparência em ambientes internos é tendência na arquitetura moderna já há algum tempo. Um número crescente de projetos evidencia a preferência por linhas retas, design clean e integração de espaços. A evolução tecnológica do vidro, por sua vez, tem sido grande aliada de arquitetos, engenheiros e projetistas, que passaram a explorar toda a potencialidade do material não apenas em paredes, janelas, fachadas e coberturas, mas também em pisos e escadas.

 

A especificação de chapas de vidro para a composição de pisos e escadas não é mais novidade em projetos no País, mas a frequência com que aparecem em obras como hotéis, museus, edifícios comerciais e shopping centers, decorrente, sobretudo, dos constantes aperfeiçoamentos tecnológicos, chega a ser surpreendente. “A demanda por esse tipo de aplicação, que apresenta alta complexidade técnica, tem crescido muito, tanto na área residencial como comercial”, diz José Carlos Alcon, responsável pela divisão de polímeros da multinacional Dupont. “Também observarmos um aumento do uso do vidro em pisos e escadas em espaços públicos, como aeroportos, museus e praças.”

 

O desenvolvimento de camadas estruturais para laminados viabilizou a fabricação de vidros com uma resistência muito superior à que era possível poucos anos atrás, observa Alcon. A unidade comandada por ele produz e comercializa o SentryGlas, camada plástica para a fabricação de laminados de segurança usados em dezenas de projetos de pisos e escadas de vidro em todo o mundo.

 

É o caso da Skywalk, passarela sobre o Grand Canyon, nos Estados Unidos, que explora a sensação de se estar caminhando no ar, sobre o abismo. Feita com vidros ultraclaros valorizados pela também alta claridade do SentryGlas®, a passarela foi desenhada para suportar dezenas de vezes sua carga máxima. ”Ainda que os cinco vidros da composição quebrassem ao mesmo tempo, a estrutura se manteria firme, permitindo que todas as pessoas deixassem tranquilamente o local”, assegura o executivo.

 

Skywalk

Flutuando livremente. A Skywalk, passarela aérea do Grand Canyon West, é formada por uma plataforma em U, em que os visitantes andam sobre um assoalho suspenso inteiramente de vidro, a 1.219 metros acima do Rio Colorado
Com vidros de 5 cm de espessura, a passarela tem aproximadamente 3 m de largura e 20 m de profundidade. Com interlayers estruturais SentryGlas, os multilaminados da estrutura são formados por camadas do vidro Diamant, da Saint-Gobain Glass

 

Para o engenheiro Carlos Henrique Mattar, gerente de desenvolvimento de mercado da Cebrace, a evolução dos cálculos para vidros estruturais e os novos elementos metálicos e intercalares presentes no mercado são fatores que têm contribuído para o uso extensivo desse tipo de aplicação. “A possibilidade de laminação de peças metálicas junto ao vidro, usadas para fixação, propicia maior liberdade de criação aos arquitetos e projetistas”, avalia o engenheiro. 

 

Asas à imaginação

 

Além de segurança, vidros mais resistentes representam liberdade criativa. Vidros usados na composição de pisos e escadas permitem a concepção de formas incomuns, coloridas e iluminadas. “Transparentes ou opacos, esses elementos assemelham-se a tapetes de luz e podem ser especificados tanto pontualmente, em residências, como em áreas de grande circulação de pessoas”, afirma o engenheiro Ricardo Macedo, da Hedron Engenharia.

 

Usualmente, vidros aplicados em pisos e escadas devem ser laminados de segurança. Obedecendo a alguns critérios especiais, o processo de laminação garante alta resistência mecânica, em razão da distribuição das cargas. “Também é possível usar uma película antiderrapante, que aumenta as condições de segurança”, acrescenta a arquiteta Heloisa Olari, também da Hedron.

 

Em caso de quebra, os fragmentos ficam presos à película de PVB. As chapas podem ser temperadas ou não, porém não é permitido laminá-las com características diferentes: todas devem receber o mesmo tratamento. “O tipo de vidro adotado depende muito dos vãos, uso e cargas a suportar. Quando o sistema exige que as peças sejam furadas, para fixação de uma aranha, por exemplo, o vidro deve ser obrigatoriamente temperado e depois laminado”, ressalta a arquiteta.

 

De acordo com Heloisa, na maior parte dos casos, a tendência de quem procura por vidros e escadas de vidro é querer o máximo de transparência possível. Porém nem sempre o objetivo é esse. Em muitas situações, opta-se pelo uso de serigrafia ou de uma película de PVB leitoso para tornar o vidro opaco.

 

Cálculo preciso 

 

Para o dimensionamento do piso ou da escada de vidro, adota-se sempre um coeficiente de segurança, de modo que, se uma das lâminas quebrar, não haja risco para os usuários. Normalmente, a carga considerada é de pelo menos 500 kg/m2. Durante o preparo do vão onde o piso de vidro será instalado, a base de apoio de cada peça deve ser trabalhada para que se obtenha um plano rigorosamente perfeito, de forma a não haver transferência de tensões e de flexão para as placas. “Para isso, a estrutura de apoio deve ter ajustes reguláveis”, comenta Ricardo Macedo.

 

Mattar, da Cebrace, explica que o dimensionamento envolve cálculos levando em conta a carga uniforme ou distribuída e o número de apoios. Vidros bem especificados suportam o peso de até 10 pessoas por m2. “Hoje temos cálculos que possibilitam a utilização de fixações pontuais, além de um conhecimento mais aprofundado das propriedades tanto dos vidros como de elementos construtivos e metálicos diferenciados”, informa Mattar. A Cebrace disponibiliza em seu site um software baseado nas normas internacionais, que ajuda a calcular a espessura de vidros para pisos e escadas.

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