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Arquitetura e Vidro

Túnel suspenso

Envelopada com vidro, passarela geométrica paira sobre a mais movimentada avenida de Viena, na Áustria

12/05/1961

Túnel de vidro na Aústria

Para quem acha que metrô é metrô em qualquer lugar, a arquitetura internacional dedicada ao transporte de passageiros tem-se encarregado de provar quanto é possível inovar neste tipo de projeto, seja na construção de novas estações ou na renovação de obras já existentes. Presente em boa parte dos projetos dedicados ao transporte público nos últimos anos, o vidro firma-se como um grande aliado da criatividade e da funcionalidade. Quando a proposta é conjugar diferentes benefícios a uma estética diferenciada, a tecnologia do material assume protagonismo neste campo, sendo capaz de transformar projetos de infraestrutura e mobilidade em verdadeiras obras de arte da arquitetura urbana moderna. 


É o caso da ponte para pedestres Lugner Bridge, construção erguida em Viena para dar acesso à histórica estação Karlsplatz, conhecida como Otto Wagner Metro Station, uma das mais antigas estações de metrô da Áustria, com mais de um século de existência. Com uma arquitetura estruturada em ferro e revestida por materiais nobres como o mármore de Carrara e o cobre, a estação é assinada pelo arquiteto Otto Wagner, um dos mais importantes do início do século XX. Projetada para conectar a estação a um shopping center, a Lugner Brigde foi concluída em 2007, quando passou a ser a primeira ponte suspensa do mundo feita integralmente de vidro. “Nossa ideia foi agregar um elemento pulsante à arquitetura da cidade, com uma geometria única e amparada por avançadas tecnologias de aplicação do vidro, um dos mais fascinantes materiais da arquitetura contemporânea”, comenta a arquiteta Aneta Bulant, que assina o projeto ao lado de Klaus Wailzerq, do escritório Bulant & Wailzer.

 


Em seu percurso no interior da passarela, que mais se assemelha a um túnel suspenso de ângulos retos, os pedestres sobem uma escada rolante até uma plataforma horizontal que se estende ao longo de 8,5 m sobre a Gürtel Boulevard, a mais movimentada artéria viária de Viena, pela qual passam por dia uma media de 100 mil veículos. Na outra extremidade está o centro de compras e entretenimento Lugner City, um complexo de edifícios multifuncionais interligados, formando um eixo marcado pelo fluxo intenso de pedestres que tem em seu ponto mais elevado a casa de ventos City Event Hall. O conjunto representa uma das conexões urbanas mais frequentadas da cidade. “Sendo o primeiro elemento a adentrar o eixo, a Lugner Bridge desempenha um papel fundamental no grande complexo construtivo. Nosso intuito foi torná-lo dinâmico e divertido, como um objeto voador pairando sobre a cidade e seu fluxo de veículos, sustentada apenas por dois cabos de aço”, conta a arquiteta Aneta Bulant.  


A onipresença do vidro em toda a extensão da ponte, recobrindo cada uma de suas quatro faces, confere um caráter arrojado ao projeto, trazendo os ares da vida urbana moderna à aura histórica de seus arredores. O grau relativo de opacidade do material permite visibilidade parcial de fora para dentro, tanto de dia quanto à noite. “Do interior da ponte, a ideia foi oferecer uma experiência de interação com a cidade e com o projeto em si”, diz a arquiteta. Por não ter sido instalada paralelamente à rua, a escada rolante estabelece um dinamismo na direção e no fluxo de pedestres até a plataforma, formada por um trapézio horizontal. 
Segunda a arquiteta, uma peculiaridade da ponte é a refinada relação estabelecida entre os sistemas estruturais, a geometria construtiva e o revestimento em vidro. “A superfície envidraçada que envolve o projeto dobra-se nos lados não paralelos do volume. Esse recurso confere uma impressão individual do espaço com constantes mudanças de perspectiva”, comenta. “Os contrapontos entre as camadas que compõem os sistemas geométricos exercem uma especial atração sobre os visitantes, mesmo que não se deem conta disso”, afirma a arquiteta.  


A estrutura de sustentação do vidro é formada por grandes vigas de aço maciço, que impedem problemas de vibração. Subdivido em seções retangulares, o invólucro envidraçado foi projetado sob um princípio simples de “dobra” de superfícies. “Dividida em elementos de ângulos retos, a pele de vidro foi dobrada como um origami, para que cobrisse todos os lados da ponte.”, descreve Aneta. “As linhas retangulares representam os suportes de fixação do vidro. Como os lados não são paralelos, cada repartição recebe uma direção diferente, formando ângulos variados. Uma geometria imprevisível e viva caracteriza todas as superfícies do envelope.”

À noite, a iluminação azul trouxe vibração a um trecho anteriormente monótono da avenida. “A estrutura envidraçada interage com a cidade, refletindo as luzes dos carros e ela mesma reluzindo sobre o ambiente urbano”, observa a arquiteta.

 

A iluminação noturna azul trouxe vibração a um trecho antes monótono da avenida. O envolope de vidro interage com a cidade, refletindo as luzes dos carros e reluzindo sobre o ambiente urbano

 

Camuflagem estrutural

Para alcançar uma linguagem visual de impacto e mínimas interferências estruturais, a premiada Lugner-Bridge empregou técnicas especiais para a instalação dos painéis de vidro, oferecidas pelo sistema SGG Vario, da Saint-Gobain Glass. Nele, as chapas são conectadas entre si por suportes metálicos nos quais os mecanismos de fixação ficam escamoteados e integrados ao espaçador. “Esse sistema inovador é o responsável por propiciar uma aparência integralmente envidraçada à fachada, ao mesmo tempo em que oferece o grau de resistência necessário à intensa movimentação de pessoas sobre a estrutura suspensa”, informa Anita.


O SGG Vario consiste em um sistema de vidro insulado pronto para instalação e foi especialmente projetado para conferir a típica aparência de uma fachada toda de vidro. As chapas são pressionadas contra os anéis de vedação interiores, e todos os elementos da fachada são fixados por meio de âncoras integradas e um sistema de contenção rosqueado.


Outra inovação foi o uso de chapas de grande dimensão de vidros laminados e insulados. Compostas por vidros de controle solar Sanex, da linha Climaplus, as unidades de vidros triplos medem 2m X 5m e foram fornecidas pela Glassolutions, empresa que representa a Saint-Gobain Glass na Áustria e é formada pela processadora Eckelt Glass e pela distribuidora Glas Ziegler. 

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