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Arquitetura e Vidro

Vanguarda sustentável

Dupla pele de vidro nas fachadas e uma enorme claraboia com persianas automatizadas são algumas das soluções que conferiram ao edifício Cidade Nova, no Rio de Janeiro, condições para receber o primeiro selo verde da cidade

17/11/1951

De quatro joules que entram pelo primeiro vidro, dois são devolvidos à atmosfera, dois passam para o segundo espaço e, desses, somente um passa para o ambiente interno

Pioneiro em quesitos como eficiência energética e tecnologia em fachadas ventiladas, o projeto do Edifício Cidade Nova tem sido constantemente citado em congressos, debates, eventos e publicações do setor da construção sempre que o foco das discussões se volta para os cada vez mais difundidos “edifícios verdes”.


Associado a arrojadas soluções ligadas à eficiência energética e sustentabilidade, a construção, projetada pela Ruy Rezende Arquitetura, foi a primeira a receber o selo verde no Rio de Janeiro, em 2008. “O projeto foi alinhado com as premissas da agenda 21 e com os principais pontos preconizados pelo LEED, um dos mais respeitados sistemas de avaliação e certificação, reconhecido mundialmente”, afirma o arquiteto Ruy Rezende, que assina a obra.

 

Localizado no centro da capital fluminense, no bairro Cidade Nova, região planejada na década de 70 para se tornar uma nova centralidade, o empreendimento foi contemplado com um sofisticado sistema de fachadas duplo-ventiladas, com vidros de baixa emissividade, além de outras técnicas de construção e sistemas para redução dos custos de manutenção. “Nós tratamos o empreendimento como um todo, passando por todas as empresas envolvidas, para certificar que elas estavam comprometidas socialmente com o meio ao redor”, diz o arquiteto.

 

A volumetria do edifício é composta por seis fachadas externas, com panos de vidro Low-e, e quatro internas, voltadas para um átrio protegido por uma claraboia com 900 metros quadrados de vidros laminados de 10 milímetros. Para a execução da cobertura envidraçada foi feita uma maquete em escala, pois os arquitetos queriam que a claraboia desse um toque especial ao edifício. A solução permitiu fazer a análise dos perfis, definir onde seriam instalados os sprinklers, como a claraboia seria iluminada e de que maneira se retiraria o ar quente e se insuflaria o ar frio.

 

Claraboia

A claraboia funciona como uma imensa bolha de ar quente, forçando o ar frio a descer e refrescar o ambiente. Segundo Rezende, chegou-se a pensar em vidros duplos, mas “a própria natureza resolveu o problema, pois não existe melhor isolamento térmico do que o ar”

 

A claraboia funciona como uma imensa bolha de ar quente, forçando o ar frio a descer e refrescar o ambiente. Segundo Rezende, chegou-se a pensar em vidros duplos, mas “a própria natureza resolveu o problema, pois não existe melhor isolamento térmico do que o ar”. Durante a noite, quando o ar-condicionado é desligado, o ar frio que vem de fora também ajuda a reduzir a temperatura interna. Durante o dia, a claraboia permite a visão do céu e a entrada da luz natural em todo o átrio. Quando há necessidade de sombreamento, uma persiana é acionada por sistema automatizado.
No total, são cerca de 10 mil metros quadrados de áreas envidraçadas. “O que nós fizemos no Cidade Nova não foram novidades, e sim a aplicação de conceitos já existentes”, afirma o arquiteto.

 

 

 
Fachadas arrojadas


 
O controle de insolação do edifício foi feito com a aplicação de dupla pele de vidro em sua estrutura, para evitar a entrada do calor, reduzindo o uso de ar condicionado e resultando em uma economia de 60% no consumo de energia. Manter a transparência e barrar o calor envolveu estudos das equipes de arquitetura, de projetos complementares – ar-condicionado, esquadrias, estruturas metálicas – e da construtora. Em conjunto, os profissionais decidiram executar uma segunda pele de vidro, sem perfis de alumínio na posição vertical, apenas com juntas secas entre os painéis.

 

Com o afastamento de 60 centímetros entre os dois componentes da dupla pele obtém-se o efeito chaminé: o calor que atravessa a primeira fachada sobe e se dissipa na atmosfera, antes de passar para o interior do edifício. O sistema reduz em quase 50% os gastos com ar-condicionado, economia que em quatro anos pagará o investimento com a fachada dupla. Também há ganhos em isolamento acústico, devido à barreira extra de vidro. A face externa tem laminados de dez milímetros e a interna, de oito milímetros. Os painéis de grandes dimensões chegam a ter 2,50 x 3,20 metros.

 

Para a execução das fachadas foi necessário compatibilizar os diversos sistemas especificados, num plano uniforme e horizontal, no lado externo, e mantendo as diferenças no interno, explica o engenheiro Arimatéia Nonatto, gerente de Engenharia e Produtos da Belmetal.

 

Outro desafio apresentado pelo Cidade Nova foi a tecnologia aplicada à construção da fachada dupla, pois a face voltada para o exterior é afastada da edificação, sem montantes, sendo sustentada por tirantes de aço fixados na estrutura. Estes estão posicionados a cada 2,50 metros, contraventados por cabos de aço entrecruzados. Uma pele de vidro do sistema Grid Skyline volta-se para a cidade, enquanto a face voltada para o interior do edifício adota o sistema entre vãos Offset 8.0.

 

O sistema Grid Skyline, na pele externa, é composto de colunas e travessas que têm a mesma geometria interna, formando uma grelha. A geometria exterior configura outra grelha com as tampas externas. É um sistema montado com tampas, contratampas e colunas, que aprisionam os vidros, por meio de gaxetas externas, contra as internas. Na segunda pele, os caixilhos entre vãos são engastados em inserts, na parte superior e num trilho inferior. O módulo é içado por fora, encaixado, e depois repousa no trilho, sendo instalado paralelamente, até fechar o vão, como se fossem células macho/fêmea. No processo, entram em ação as gaxetas verticais, que pressionam as células em seus montantes. Esse sistema permite o uso de janelas maxim-ar.

 

No fechamento da fachada do térreo foi empregado o conceito stick (fachada Atlanta), no qual o perfil do módulo forma um colar, dando a volta na coluna e na travessa. As colunas de 180 x 97 milímetros vencem vãos de mais de seis metros. A montagem segue a sequência de ancoragens, colunas e travessas e, depois, os módulos com os vidros, em sistema de fixação frontal por meio de presilhas. No stick, a montagem ocorre pelo lado externo, num balancim, de cima para baixo.
Já as outras fachadas, incluindo o fechamento do átrio, foram executadas com módulos unitizados do sistema Offset Wall. Estes têm altura igual à do pé-direito do pavimento e, pelo lado interno, foram içados por gruas e engastados em inserts fixados à estrutura. É um sistema de montagem rápida, mas os módulos não podem ser desmontados, já que são coligados por uma barra de transição. Na verificação estrutural, portanto, é considerado o modelo de viga contínua, e o carregamento é limitado ao intervalo entre as barras. No caso de troca dos vidros, a operação é feita pelo lado externo, com o auxílio de um balancim e seguindo um conjunto de procedimentos de segurança, explica Nonatto.

 

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